FÓRUM SOCIAL MUNDIAL SOBRE JUSTIÇA E DEMOCRACIA COLOCA PORTO ALEGRE NOVAMENTE NA VANGUARDA GLOBAL

Por Alexandre Costa (*)

Quando Porto Alegre recebeu pela primeira vez o Fórum Social Mundial (FSM), em janeiro de 2001, ninguém imaginava a dimensão que o evento alcançaria. A capital do Rio Grande do Sul, que até então era anônima em termos globais, vinha conquistando a atenção do mundo em função do Orçamento Participativo. Um mecanismo de administração baseado em um modelo democrático, que proporcionava à população o pleno exercício da cidadania, por meio de plenárias temáticas em que eram discutidas e elencadas as prioridades em cada uma das 16 regiões da cidade. E assim Porto Alegre foi se estruturando, com a participação dos moradores que passaram a decidir sobre investimentos, projetos, o desenvolvimento e o futuro da cidade.

Não demorou muito para o modelo de Porto Alegre chamar a atenção do mundo. O OP se tornou uma prática reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), destacando-a como uma das 40 melhores práticas de gestão pública para cidades do mundo. O Banco Mundial também considerou a iniciativa como modelo bem-sucedido de ação entre um governo e sua população e o OP da capital gaúcha passou a servir de exemplo para cidades no Brasil e no mundo, como Santos (SP), Santo André (SP), Belo Horizonte (MG), Blumenau (SC), Aracaju (SE), Belém (PA), Bruxelas (Bélgica), Barcelona (Espanha), Rosário (Argentina), Toronto (Canadá), Montevidéu (Uruguai) e Saint-Denis (França).

Nas ruas da capital gaúcha, a efervescência cultural embalava ideias possíveis e realizáveis, impulsionadas pela diversidade que se propagava em diferentes idiomas. E foi neste cenário multicultural que utopias se reinventaram, importantes bandeiras foram erguidas e inúmeras lutas alcançaram visibilidade. As sementes germinaram, os frutos apareceram e o FSM de Porto Alegre assumiu o desafio gigantesco de fazer contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado desde 1971 em Davos, na Suíça.

As primeiras edições deste evento transformador colocaram Porto Alegre em um lugar de destaque no mapa político mundial. Enquanto Davos buscava soluções econômicas conservadoras para viabilizar novos projetos idealizados pelas maiores potências mundiais, em Porto Alegre lideranças políticas e ativistas sociais progressistas de diversos lugares do planeta trocavam experiências e saberes que alimentavam e continuam alimentando as grandes mudanças sociais.

Por anos consecutivos, o verão na capital mais ao Sul do Brasil ficou ainda mais quente por conta do calor humano que se espalhava pela cidade, se misturava ao cotidiano de gaúchas e gaúchos e se fazia presente nas esquinas, nas praças, nas ruas, nas calçadas, dentro dos ônibus, nos hotéis e restaurantes. E a cada nova edição, Porto Alegre se tornava ainda mais vibrante, colorida, múltipla, plural, diversa e inclusiva.

O FSM também fez com que a cidade se tornasse um ponto de encontro de renomados intelectuais, escritores, artistas, políticos, lideranças sociais, estudantes, jovens, trabalhadores, camponeses do MST, ambientalistas, gays, lésbicas, religiosos de diferentes matizes, pessoas de todas as cores e com realidades distintas. A mistura dos povos e as diferentes culturas que chegavam à cidade, fizeram de Porto Alegre uma metrópole cosmopolita.

Para além das discussões ideológicas, o FSM deu vida a Porto Alegre, que passou a acreditar no seu potencial turístico. A cidade que se contrapôs a Davos, também soube enxergar novos horizontes, a partir do aquecimento da economia local, em uma época que parte da população migra para o litoral.

Passados 21 anos da primeira edição do FSM, Porto Alegre assume novamente um papel de vanguarda em relação a discussões de temas de interesse global. De 26 a 30 de janeiro, a capital gaúcha será palco de um movimento com a participação de intelectuais renomados e que pretende debater os sistemas de justiça e as instituições nelas envolvidas. O Fórum Social Mundial sobre Justiça e Democracia (FSMJD) será um espaço para fazer frente aos constantes ataques ao Estado Democrático de Direito que assolam o Brasil, a América Latina, e outras partes do mundo. Ocorrerá paralelamente às atividades do Fórum Social das Resistências, evento que iniciou em 2017, em Porto Alegre, e que faz parte do FSM. Este ano, o FSM será realizado no mês de maio, na Cidade do México.
Assim como naquele janeiro de 2001, a capital gaúcha terá o desafio de novamente se transformar em uma metrópole cosmopolita, contrapondo-se a Davos e as novas estratégias da agenda neoliberal da Organização Mundial do Comércio (OMC) e reagindo à guinada do mundo em direção à ultradireita. Em tempos de pandemia, de fascismo, obscurantismos, negacionismos e retrocessos, o Fórum Social Mundial sobre Justiça e Democracia assume papel determinante na defesa da vida, estimulando sonhos de um outro mundo possível.

(*) Alexandre Costa é jornalista.

2 Comentários

  • JUSSARA BRUM MOTTA disse:

    FSM2022,para fortalecer a democrácia e resoeitar a constituição!

  • Apenas uma complementação. Uma enorme falácia histórica: o Orçamento Participativo (OP) não foi criação de Porto Alegre.
    Talvez tenha sido a primeira capital brasileira a fazer isso, aí sim e a principal difusora dessa ideia.
    Mas os OP foram criados no Brasil pelo então prefeito de Lages – SC, Dirceu Carneiro, entre 1977 e 1982.
    Existem algumas teses e pesquisas que trazem esse registro e podem ser buscadas, caso vocês tenham interesse em conhecer e corrigir no seu site.
    Parabéns pela retomada dos FSM, afinal um mundo novo é preciso!

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