NOTA DE AFIRMAÇÃO DE PRINCÍPIOS

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL JUSTIÇA E DEMOCRACIA

Assédio moral, assédio sexual e extrativismo intelectual são práticas danosas e anacrônicas que normalizam violações à integridade dos segmentos vulnerabilizados e, não raro,  encontram acobertamento nas relações de poder institucionalizadas. Há pouco, esses temas ganharam repercussão internacional por conta das denúncias de mulheres cujas vozes não podem ser silenciadas. Ao contrário, deve-se sempre acolher as mulheres vítimas dessas práticas, pois o patriarcado não só reserva ao homem um lugar de inegável privilégio nas relações sociais como também modela a subjetividade das pessoas em geral.

Nós, do Comitê Facilitador do Fórum Social Mundial (FSMJD), não poderíamos nos omitir diante das denúncias que vieram a público envolvendo o professor Boaventura de Souza Santos e algumas (ex-)discentes do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES). Enquanto movimento social, o FSMJD espera que os fatos sejam devidamente apurados e encoraja atitudes de enfrentamento à estrutura patriarcal que sustenta a reprodução de condutas misóginas, xenófobas e racistas promotoras de múltiplas violências. 

Acreditamos que a plenitude da justiça e da democracia é possível e depende fundamentalmente da superação de valores seculares que subalternam corpos e intelectos femininos. Acreditamos na força emancipatória da coletividade e no poder do acolhimento das pessoas caladas e invisibilizadas. Acreditamos que é preciso persistir na construção de uma sociedade cada vez mais livre e igualitária, em que o respeito mútuo seja força motriz do desenvolvimento humano sustentável. Acreditamos na validade e na potência das pesquisas e construções acadêmicas do CES. Acreditamos ser possível e necessário separar os indivíduos de suas obras, discutindo em primeiro lugar os fatos e processos sociopolíticos do nosso tempo. Acreditamos ser possível combinar o garantismo jurídico e humanista com a exigência de apuração completa das condutas dos indivíduos e sua devida responsabilização.

Na busca de superar e prevenir toda forma de assédio, o FSMJD desenvolverá atividades voltadas a monitorar e a desmantelar práticas que aviltam a dignidade das mulheres ou estabelecem hierarquizações colonizadoras, resultando na denegação de direitos, na exacerbação do racismo e do patriarcalismo, e na dominação de classe.

Reafirmamos nossos princípios e seguimos firmes na luta, porque acreditamos, sobretudo, que um outro mundo é possível.

Tradução